Contos de madrugada #02
O Tempo Que Eu Perdi
Sempre achei que amar alguém significava esperar, ceder, confiar. Foi assim que vivi oito anos ao lado de Caio, acreditando que, um dia, ele me pediria em casamento. Nunca duvidei do nosso amor, ou pelo menos daquilo que eu achava que era amor. Ele dizia que éramos uma equipe, e eu acreditava. Mas, com o tempo, essa equipe parecia correr para lugares diferentes.
Conheci Caio aos 25, cheia de sonhos e energia. Ele era inteligente, determinado, ambicioso. Tudo o que eu admirava em um homem. Nos primeiros anos, acreditei que estávamos construindo algo juntos. Eu larguei alguns planos para apoiar os dele, achei que era isso que as pessoas faziam quando amavam. Via minhas amigas noivarem, casarem, terem filhos, enquanto eu seguia escutando: “Calma, Clara. O momento certo vai chegar.”
Só que o momento certo nunca chegou. Sempre havia algo mais importante: o novo emprego, o investimento, o crescimento da empresa. "Preciso estar estável antes de dar esse passo," ele dizia, e eu engolia. Comecei a me perguntar se o problema era comigo. Será que eu não era suficiente? Será que Caio não me via como a mulher com quem ele queria passar o resto da vida? Mas eu tinha medo de perguntar, medo de ouvir uma resposta que não suportaria.
As coisas mudaram quando uma amiga me questionou: "Você já pensou que talvez ele não te veja como a esposa que imagina?" Aquilo me doeu como um soco. Não queria acreditar, mas, pela primeira vez, comecei a observar. Ele fazia comentários que antes passavam despercebidos. Uma vez, mencionou que sempre imaginou sua esposa como alguém mais "aventureira". Noutra, elogiou a parceria de um casal de amigos como se nós dois não fôssemos nada parecidos. Aos poucos, percebi: ele não me via como "a mulher ideal". E eu estava lá, esperando por algo que nunca viria.
Demorou, mas eu aceitei que a culpa não era minha. Ele me amava, sim, mas não o suficiente para me escolher como sua parceira para a vida toda. Não por maldade, mas porque ele não sabia me deixar ir. E eu, por medo de ficar sozinha, me agarrava a um relacionamento que só me prendia. Eu não estava vivendo; estava apenas esperando.
O dia em que saí daquele apartamento foi um dos mais difíceis da minha vida. Não era apenas sobre deixar Caio. Era sobre deixar para trás anos de sonhos, planos e uma versão de mim mesma que eu nem reconhecia mais. Peguei uma mala, olhei para ele pela última vez e disse: “Eu não posso mais ficar esperando. Preciso viver.”
Hoje, carrego as marcas dessa história. Sinto que perdi tempo, que entreguei os melhores anos da minha juventude para alguém que nunca quis o mesmo que eu. Mas, ao mesmo tempo, sinto alívio. A vida não para quando deixamos algo para trás. Ela recomeça, mesmo que doa.
Se você está lendo isso e se sente presa, esperando por um amor que não te escolhe, saiba: você não está sozinha. Não é fácil sair, mas é ainda mais difícil ficar. Não deixe que o medo do futuro te roube o presente. Não faça como eu fiz.
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